sábado, 5 de janeiro de 2008

A case of you

Ela pintava o olho esquerdo quando a irmã trocou a estação de rádio. Uma canção de acordes doloridos tocava enquanto uma voz suave cantava. Por um segundo, apenas um, ela desviou o olhar do espelho em direção ao som, imaginando que, talvez, fosse ele. Sempre ele com aqueles cds com velhas canções de woodstock, mas não. Sentiu um leve tremor, entretanto nada em sua essência doeu, nada seria capaz de lhe aflorar qualquer mágoa esquecida, simplesmente sentiu algo movendo-se, quase invisível, impossível de fazer reviver qualquer sentimento.
Ela era um lago, um lago silencioso e tranqüilo, a canção, a folha morta; caíra, sobre sua superfície, agitara-a de leve, mas logo afundaria em suas profundezas desconhecidas, de onde jamais sairia.
Assim ela definira seu coração, um lago cheio de folhas. Algumas dessas folhas flutuaram por longos períodos antes de sumir, outras tão vazias de significado que ela nem saberia dizer se lhe causaram qualquer movimento interior ao submergir.
A canção já estava no fim, não durou mais que vinte segundos, então ela foi até o armário onde pegou uma sandália baixa e seu anel favorito.
Despediu-se da irmã com um beijo na testa e um tímido ‘tchau’, enquanto colocava a mochila nas costas.
Fechar a portas trás de si foi o mais difícil, mal sabia para onde estava indo, mas sabia que deveria ir, independente de qualquer razão.
E foi.


“oh, baby, baby
todas noites eu tenho sonhos estranhos
e você está em quase todos eles, querido.”

2 comentários:

Kamila Ail disse...

o final do conto, tal qual a música, areja um vento bom.
:) gostei.

M.úz.i.KC.a disse...

então,
suspiro - um suspiro, mesmo. poderia ser um texto enorme, mas, ainda sim, seria um suspiro pequeno em tempo.
falo de uma vida toda sem suspirar.

v.o.z