sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Como um anjo regresso do inferno
Teu semblante em corpo estranho

Teus olhos, tua boca, teu nariz
Iguais, como uma visão
Gelei ante esse outro ego

Perfeita cópia, de onde vieste
trazer as promessas distantes?
os adeuses mandados ao limbo?

Tua voz ecoando, porque
sempre regressa mais alta,
se não, mais, me diriges a palavra?

Mau agouro, ou saudades doi[í]das?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fosse eu escritora
a tua história
não teria começo
nem fim:
Adeus somente a Deus
aos mortais, jamais

domingo, 14 de junho de 2009

Mon ami

Meu amor de Pierrot morreu
Mon coeur, où tu est?
Cai e teus braços não me seguraram
Mon âme, où tu est?
Qu’est-ce que je fais sans toi?

Meu amor de Arlequim morreu
Mon amour, où tu est?
Cai e tua cama não me amorteceu
Mon sex, où tu est?
Qu’est-ce que je fais sans toi?

Pierrot et Arlequim
Me deixaram
Moi? Moi, je suis la Colombina
La Colombina sans amant

Meu eu, meu outro eu
Où tu est? Ou tu est?
O que fazes então, Pierrot Arlequino,
Que não cuidas da tua Colombina?

Où tu est?
Dis-moi, où tu est?
Dis-moi, qui a éte que te a donne
L’autorisation de mourrir?




(Peço desculpas pelo meu francês, c'est trèz bizzare, sobretudo na última estrofe...
depois eu procuro ajuda de um tradutor que saiba o que está fazendo...leia-se Grando...
mas não importa, é de coração =/
meu eu-lírico tá sozinho no mundo agora, e eu não sinto outra coisa que medo, e saudade)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Bebi mais um gole daquela água. Quente e densa. Como uma dose de algum veneno. Ânsia, ódio. Então era assim. Fácil assim, o fim.
Em seus olhos eu vi a mais perfeita descrição da dor... a dor que saia do meu coração flechava-os, de modo que lacrimejavam como seringueiras. Passei a mão no cabelo, e, fingindo indiferença, bebi outro gole. Ofereci o líquido.
— Bem, isso é tudo que eu tenho pra te dizer.
Silêncio. Teria preferido brigas, questionamentos, qualquer coisa. Nunca aquele choro contido.
— Essa semana eu busco minhas coisas.
E sai, deixando o peso de mil homens mortos pra trás.



rascunho. essa personagem nem sabe o que quer da vida ainda. nem eu.

sábado, 21 de março de 2009

O inverno me traz qualquer coisa melancólica. Qualquer indício seu é capaz de me fazer sentir fraca. Perturbada. Sozinha. Triste. Incompleta.
O vento que faz lacrimejar meus olhos sempre busca no meu âmago um choro, e dependendo da situação eu exteriorizo, ou não. Eu digo, eu mostro, ou eu engulo. A seco. Como os comprimidos pra dor, que tomo ao final da noite, sem ter disposição para buscar um copo d’água, muito menos alguém que os busque.
Cobertas, travesseiros, tudo parece ter um ar doente. E realmente, é assim que me sinto. O frio não vem de fora. E mesmo quando eu penso naqueles que amo, o frio ainda me persegue. E não há pra onde fugir. Exceto para baixo dos edredons múltiplos, como em útero que não dará nunca a luz. Um útero estéril de uma cria incapaz de viver. Sem pai, nem mãe.


A espera de um Morpheu, que traga, além de sono e sonho, Morphina.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

As nuvens são cinzas,
ou cinza é a minha visão?

É tanta, tanta dor
A fumaça alheia
na minha cara
E o mofo que crias no meu coração

Febre
Sob meu leito, uma cruz

É tanta, tanta dor
O bafo de vinho alheio
na minha cara
E o mofo que crias no meu coração

As nuvens são cinza,
ou cinza é a minha visão?

domingo, 18 de janeiro de 2009

Que nestas palavras não se aperceba nada meu, ou teu.

Esta noite estive lendo as tuas cartas, e pensei que não haveria sentido em lhe escrever novamente. Traçar meus sentimentos como um desabafo, talvez, afinal, todos nós sabemos, esse é o meu divã.

Tão velhas as cartas, que encontrei ali um outro eu, e um outro tu. Acorrentados e aprisionados em pequenos relicários em prateleiras quase imagináveis, gritando por socorro do esquecimento, eus passados imortais enquanto existirem no papel.

E assim, observando mais distante nada percebo, sino que la distancia. ¿Lo qué hay entre nosotras?

È que o tempo passa... e como correntes marítimas leva tudo embora. Não há mais cartas a serem escritas, nem tardes mornas. Lembro dos planos, dos mundos que juntas criávamos, porque quem tem o dom de criar um personagem, é deus. E juntas éramos deusas.

O ato de fingir, mentir e jurar meias verdades sobre o papel era o laço que nos unia.

Não minto ao dizer que sinto saudades, um aperto quando vejo tua letra, quando percebo que não sei mais como estar perto de ti. Sinto a ausência das conversas de horas e horas, ainda que vazias de sentido real. Do ciúmes do meu eu-lírico, quase rival do teu. Da competição saudável pela maior morbidez. Meus personagens querendo sentir mais dor e fome do que os teus, e os teus com espadas nas mãos para aos meus matar... Aonde foram?

Esta não será mais uma carta. Eu nem usei caneta, não há rascunhos e riscos.

Sem data, nem destinatário.

Apenas mais uma saudade expressa e que não será curada.

Nunca.

E grito aos filhos, e aos filhos dos meus filhos que ninguém entenda a esta escritora, que um dia poderá ser diagnosticada como esquizofrênica, a não ser tu, querida amiga.

(Dedicada a Kamila Ail da Costa, aquela que leu meus primeiros escritos, e que me entretinha com seus contos. Paz como a dos cemitérios.)